18/09/2011

Malária vinculada ao desmatamento na Amazônia

Dois estudos na floresta tropical amazônica sugerem um vínculo entre o desmatamento e o risco crescente de malária.

O primeiro estudo, conduzido na Amazônia peruana e publicado na edição de janeiro doAmerican Journal of Tropical Medicine and Hygiene (Jornal Americano de Medicina Tropical e Higiene), descobriu que a epidemia de malária na região estava correlacionada ao desmatamento. A segunda pesquisa, divulgada na edição da semana passada doProceedings of the National Academy of Sciences(Procedimentos da Academia Nacional de Ciências) indica que a remoção de florestas ao redor de povoados na Amazônia brasileira, ao criar áreas de água parada nas quais os mosquitos podem depositar seus ovos, incrementa o risco de malária à curto prazo.

Malária é apenas uma de várias doenças que foram recentemente vinculadas a modificações no ecossistema. No final do ano passado a Organização Mundial de Saúdeafirmou que o crescimento de enfermidades fatais como a SARS, o vírus Nipah e a gripe das aves poderiam estar ligadas a degradação e destruição do meio-ambiente. Estes estudos cumulativamente sugerem que a manutenção das florestas têm importantes implicações para o gerenciamento sanitário da Amazônia e outras regiões de floresta tropical.

Mais de 320.000 quilômetros quadrados de floresta tropical amazônica desapareceram desde 1980. A área de floresta degradada pela derrubada e incêndios é cada vez maior.

Abaixo, notícia da Universidade Wisconsin-Madison anunciando a pesquisa.



À medida que as árvores da Amazônia recuam, mosquitos transmissores da Malária zumbem
Publicado pela Universidade de Wisconsin-Madison


Cientistas têm vasto conhecimento de que o desmatamento crônico pode gerar uma selva de aflições. Mas agora um estudo confirma que o desaparecimento de florestas impõe mais do que danos ambientais: também pode causar doenças nos seres humanos.

Trabalhando na Amazônia peruana, um time de pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison e da Universidade Johns Hopkins descobriram que a probabilidade de mosquitos transmissores de malária picar humanos é 200 vezes maior em áreas desmatadas que na floresta. Seus resultados apareceram esta semana no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene (Jornal Americano de Medicina Tropical e Higiene, edição de 6/1/2006).

Desmatamento no Peru
"Ao alterar dramaticamente a paisagem nós estamos inclinando a balança no sentido de favorecer o risco de transmissão da malária," afirma o conceituado autor Jonathan Patz, anteriormente cientista da Universidade Johns Hopkins e atualmente professor no Nelson Institute for Environmental Studies da Universidade Wisconsin-Madison e no departamento de saúde populacional. "Este é um dos estudos de campo quantitativo mais detalhados feitos na Amazônia que diretamente endereça o vínculo potencial entre o desmatamento e a malária."

Por cerca de um ano, o time de pesquisa coletou mosquitos de 56 locais em variados estágios de desmatamento. Os locais estavam ao redor de 14 povoados situados ao longo de uma nova estrada que corta a floresta tropical da Amazônia, e conecta as cidades de Iquitos e Nauta no Nordeste do Peru. Trabalhando à noite, quando os mosquitos estão mais sedentos, os cientistas contaram a freqüência que os insetos pousaram em humanos. Cada local foi atribuído a uma das quatro categorias vegetais, incluindo floresta tropical, arbustos em crescimento, áreas cultivadas e povoados.

"Em nossa área de estudo, desmatamento é seguido pelo cultivo [agrícola], com arbustos tomando conta da terra assim que foi abandonada," afirma Amy Yomiko Vittor, condutor do estudo na Universidade Johns Hopkins. "Ambos habitats alterados são associados ao substancial aumento na taxa de picadas de mosquito."

Vittor e Patz argumentam que seu trabalho pode ajudar nos esforços para melhor predizer e gerenciar epidemias de malária, uma das maiores preocupações mundiais em saúde pública.

"As taxas de malária na Amazônia peruana dispararam dramaticamente nos últimos anos, saltando de algumas centenas em 1992 para mais de 120.000 casos, cerca de um terço da população, em 1997," diz Vittor, agora estudante do quarto ano de Medicina na Universidade de Stanford.

Com sua preferência por sangue humano, o mosquito da espécie Anopheles darlingi é responsável pela maior parte de casos de malária ocorridos na bacia amazônica. Como as árvores têm sido continuamente removidas, o inseto presumidamente prosperou com o ambiente mais exposto e águas paradas, facilitando sua procriação neste habitats perturbados, afirma Vittor. As populações de mosquito também cresceram na medida que mais humanos fixaram-se na região, cada vez mais desenvolvida.

Mas o crescimento da população humana não é a única explicação para a disparada dos números do Anopheles, diz Patz. "A maioria das pessoas pensa que a malária está em alta porque o [Anopheles darlingi] alimenta-se do crescente número de humanos na floresta tropical. Mas nossos resultados mostram que a alteração da paisagem afeta muito mais que pessoas mudando para a selva."

Para controlar os efeitos do número de humanos nas populações de mosquitos, os cientistas compararam as taxas de picadas em áreas desabitadas e desmatadas com aquelas das áreas povoadas de floresta. Porém, mesmo após ajustar as populações humanas, os cientistas descobriram que mosquitos ainda tem maior probabilidade de atacar em áreas livres de árvores. "A presença humana mostrou um incremento no risco de picada, mas o número de pessoas não explica o crescimento," afirma Patz.

Nós próximos meses os pesquisadores planejam publicar dois novos artigos que provam outros aspectos da conexão malária-desmatamento na Amazônia. Um deles examina como a localização da larva do mosquito se relaciona com o desmatamento e outros fatores físicos e biológicos tal como a presença de fontes de alimentação das larvas. O outro é uma visão epidemiológica nas taxas de malária entre humanos vivendo ao redor da área estudada.

O fato de que o desmatamento, um dos mais rápidos causadores de mudanças na paisagem, pode afetar a prevalência de doenças como a malária suscita maiores temas, diz Patz. "Eu sinto que a política de conservação é um deles, juntamente com as políticas de saúde pública. É provável que áreas protegidas de conservação possam, em última análise, ser uma importante ferramenta em nossas estratégias de prevenção às doenças."

Nenhum comentário:

Postar um comentário